A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu
que o prazo de prescrição para indenização por danos decorrentes de
acidentes aéreos é de cinco anos. Para os ministros, vale a regra do
Código de Defesa do Consumidor (CDC), por ser mais bem ajustada à ordem
constitucional.
A ação original foi proposta contra a TAM Linhas Aéreas S/A. A autora
residia em rua próxima do local de queda do Fokker-100 da empresa, em
1996, no bairro paulistano do Jabaquara. Segundo alegou, ela teria
ficado psicologicamente abalada com o acidente. Disse que se tornou
incapaz de realizar tarefas domésticas depois de ver vários corpos
carbonizados e a destruição da vizinhança.
Ela ajuizou a ação apenas em maio de 2003, quase sete anos após o
evento. Em primeiro grau, foi aplicado o prazo de prescrição do Código
Brasileiro de Aeronáutica (CBA), de dois anos, apesar de o juiz ter
consignado que também pelo CDC estaria prescrita a ação. O Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJSP), porém, aplicou o prazo prescricional do
Código Civil (CC) de 1916, que era de 20 anos.
Ao analisar recurso contra a decisão do TJSP, a Segunda Seção do STJ
entendeu que o prazo de prescrição já havia transcorrido quando a ação
foi ajuizada.
Especialidade
O ministro Luis Felipe Salomão afirmou inicialmente que a autora pode
ser considerada consumidora por equiparação, já que foi prejudicada
pela execução do serviço. Segundo o relator, a expressão “todas as
vítimas do evento” do artigo 17 do CDC justifica a relação de consumo
por equiparação, já que foi afetada mesmo não tendo adquirido o serviço
diretamente. Pela jurisprudência do STJ, no conflito entre o CC/16 e o
CDC, prevalece a especialidade deste.
Para o relator, com a possibilidade de incidência do CDC surge outro
conflito aparente de normas, entre ele e o CBA. Ele afirmou que esse
conflito não pode ser solucionado pelos meios habituais de
interpretação, como a aplicação da legislação mais especializada.
Isso porque o CBA é especial em razão da modalidade do serviço
prestado, enquanto o CDC é especial por força dos sujeitos protegidos.
Para o ministro Luis Felipe Salomão, a prevalência de uma das normas
deve advir de diretrizes constitucionais.
“Em um modelo constitucional cujo valor orientador é a dignidade da
pessoa humana, prevalece o regime protetivo do indivíduo em detrimento
do regime protetivo do serviço”, afirmou, referenciando doutrina do
ministro Herman Benjamin.
A situação é similar aos casos de extravio de bagagem ou atraso em
voos. Nessas hipóteses, o STJ tem afastado as leis esparsas e tratados
internacionais em favor do CDC.
Processos: REsp 1281090
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